Psicologia para psicólogos
Precisamos conversar sobre o assunto.
Na pandemia, uma condição muito peculiar aconteceu a todos os profissionais de psicologia.
Além dos apuros iniciais de confinamento, alguns hospitais e locais de atendimento de emergência precisaram muito de nossa força para ajudar a superar o imenso luto a que nos submetemos como sociedade. As dificuldades de profissionais da área de saúde, com o número gigante de internações e óbitos, sem dar conta com o volume de pacientes. Além dos óbitos, a dificuldade em lidar com os que ficavam. Filas de problemas, de prontuários. Profissionais do serviço social em pânico por não saber a qual demanda atender primeiro.
Foram liberadas emergencialmente as possibilidades de atendimento online.
Foram criadas frentes de trabalho para atendimentos voluntários para suprir um pouco mais as dificuldades.
Muitos dos óbitos eram nossos familiares ou amigos. O mundo despencando ao nosso lado.
Mas e nós, nós.... os psicólogos? Quem cuida de nós?
Nem nos artigos de busca nas redes não se encontra muito assunto a respeito.
Por que?
Por que é tão difícil falarmos de nossa área?
Por que é tão difícil assumirmos que também somos frágeis e temos luto?
Há um sinal no ar de que Temos que ser Fortes, Temos que segurar... Temos que...O que mais?
Por que? Até quando isso precisa perdurar?
Isso parte de nós ou de fora de nós?
E se é de fora, por que internalizamos?
Temos medo de mostrar que somos humanos, que somos passíveis de necessidades.
Tenho tratado muitos profissionais da área de saúde em pânico, aos prantos, desesperados, não conseguindo nem voltar para o trabalho.
Outros ainda, por qual motivo for, não aguentam sequer tirar o pé de casa.
Já falamos há muito tempo sobre a necessidade do psicólogo de se tratar, desde o começo da faculdade como forma de autoconhecimento. Sim, se ele se conhece consegue ver o outro.
Algumas estatísticas revelam, escutei numa mídia esses dias, não me lembro muito bem a fonte - mas o fato eu lembro - 45% dos psicólogos estão doentes, mentalmente falando. Estão desequilibrados precisando de ajuda. Olha que número altíssimo para nossa saúde mental.....
E como estão tratando das pessoas, esses profissionais? Estão preocupados com o resultado final de seu trabalho? Muitas vezes são a principal fonte de renda familiar. E como lidar com isso?
Por este motivo resolvi escrever este artigo . Para despertar nos nossos colegas a vontade de estarem melhores, e, mais do que isso. Se darem o direito de serem tratados, cuidados, acolhidos.
Saberem que desde o começo do curso já deveriam ter tido essa compreensão de que um psicólogo é um profissional que tem que ser analisado para poder analisar, que tem que ser tratado para poder tratar.
Encontrei uma frase num livro espírita que resume muito o que estou dizendo . O nome do livro é "Jesus no Lar" de Chico Xavier, por Neio Lucio. Diz o seguinte: - "O orvalho num lírio alvo é diamante celeste, mas, na poeira da estrada, é gota lamacenta. Não te esqueças desta verdade simples e clara da Natureza."
Então precisamos estar limpos e serenos por dentro para recebermos o nosso paciente.
Se por dentro somos um poço de dificuldades e não nos limpamos para receber o outro, como acreditamos que poderemos tratar desta pessoa?
No mínimo, precisamos ter consciência e sabedoria sobre nossas dificuldades para não azedar a vida alheia e muito menos, interpretar os seus conteúdos de acordo com nossas crenças.
Daí a necessidade de estar o mais pronto e livre possível.
Isto só é possível através do autoconhecimento para si indo livre para o mundo.
Portanto, quanto mais coragem para mergulhar fundo em si, melhor.
O Papa Francisco em seu último discurso fala sobre a aventura que é viver, deslumbrar-se a cada momento e nunca desistir da experiência da vida.
Seja por qual caminho for, qual crença seguir, mas precisamos nos trabalhar interiormente.
É um fascínio cada momento . E devemos usufruir disto.
Olhar para si, com o melhor de nós e entregar nosso Eu com a certeza de estar Presente e Livre em tudo que se faz.
Precisamos nos tratar antes de tratar o outro. Com leveza, com amor e alegria a nós.
Somos merecedores. Também nós.
Então vamos. Vamos lá.....
Miriam Inacio - Psicóloga - CRP 06/19274
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