Ainda sobre o processo de aprendizagem.
Pense nisso que falou Descartes.
https://goo.gl/oAJRkG
O processo de aprendizagem envolve não só o que assimilamos, mas também o que o professor José Pacheco da Escola da Ponte chama de processo de "ensinagem". Este último inclui a metodologia utilizada para que possamos absorver o conteúdo que nos é apresentado na vida, seja através das escolas e bancos acadêmicos, seja através da própria vida.
Para mim foi natural em um determinado momento da vida, ao avaliar pessoas para aquisição de CNH, que havia dificuldades de escrita e de leitura e que não se referiam exclusivamente à falta de alfabetização,mas sim à dificuldade em perceber que determinadas pessoas não conseguem aprender como as outras por causa do método e não porque são incapazes.
Isto me levou a começar a investir tempo e energia para auxiliar as pessoas, com excelentes resultados, pois elas acabavam aprendendo em algumas semanas.
O resultado foi não só da mudança de situação para se tornarem motoristas - elas passaram a ser condutoras de sua própria vida. Muda a autoestima, mudam os anseios e os destinos. Muda seu propósito de vida e tornam-se ativas, atores de sua história, animadas e pasmem - independentes e felizes.
Sendo assim, cheguei à conclusão de que o processo de alfabetização é, tanto para crianças como para adultos, um processo mais emocional que mecânico e físico e daí decorrem todas as demais questões e dificuldades . Esta é a origem.
Existem muitas teorias, muitos pesquisadores,neurologistas e muita gente interessada em entender como funcionam estas coisas no cérebro.Tiro o chapéu para todos eles.Mas resolvi postar aqui algo a respeito que se refere à minha experiência pessoal e que requer não só cuidado, mas carinho ao começar a perceber as diferenças entre as pessoas.
O olhar do professor deve ser muito mais investigativo e instigador de curiosidades, que unicamente de um passador de conteúdos. Aprender a olhar para este ser em desabrochamento diante de si, que em qualquer idade, no que se refere às letras, é igualmente ávido em aprender.
É só uma questão de observação, método e boa vontade.
Tenho muitos casos de alunos aqui para narrar, mas um particularmente me chamou a atenção e vou contar.
Em seis meses eu alfabetizei um adulto,pedreiro. Já estava se tornando mestre de obras e ainda não sabia escrever.Ele lia muito pouco e por este motivo era muito tímido.
Quando não passou no exame para carteira de motorista, me propus a ensiná-lo e fiz o convite.
Ele terminava seu serviço pesado às 17 horas, entrava no ônibus, chegava às 19 horas. Lanchava e vinha para a sala onde eu ensinava, passava duas horas aprendendo e pegava o ônibus de volta às 21 para chegar em casa às 23 horas.Levantava às 05 horas da manhã todos os dias.
Ao final do sexto mês, já lia , escrevia e até sorria de vez em quando. Notava uma alegria em seu olhar.
Três anos depois nos encontramos em uma cidade próxima, no embarque do trem. Ele ia embarcar. Ele me conheceu.
Estava tão diferente que nem o reconheci.
Cabelo mais ajeitado, mais comprido, óculos de sol, roupas bonitas e uma alegria contagiante. Em cinco minutos me contou tudo e agradeceu.
Casou-se, comprou um carro e estava construindo sua própria casa. Me agradeceu muito e disse que nunca esqueceu o que fiz por ele.
Estas coisas não têm preço. A emoção tomou conta de mim e até hoje quando me lembro ainda embarga.
Isto prova a confirmação do que eu disse. A aprendizagem é um processo emocional acima de tudo.
Bem, meus amigos leitores, aí está um pouco de minha experiência com a educação, a parte que mais me encheu de alegria enquanto fiz.
Um abraço a todos . Até mais.
Miriam Inacio
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